Um ato marcou o início da pauta: o grito "Mulheres indígenas merecem respeito" ecoou no tradicional barracão Tuxaua Constantino Viana Pereira. Os homens, em apoio, também participaram. Com as mãos cheias de tinta vermelha, reforçaram o pedido de respeito.
A violência contra a mulher está presente em diversos lares e classes sociais, seja ela física, sexual, psicológica, patrimonial ou moral. Nas comunidades indígenas não é diferente. Para informar e orientar sobre os índices de violência praticados contra as mulheres, o tema "Protegendo e fortalecendo a luta das mulheres indígenas contra as violências" foi abordado no segundo dia da 54ª Assembleia Geral dos Povos Indígenas de Roraima.

A advogada do CIR, Fernanda Félix, explicou as ações do departamento jurídico em conjunto com o departamento de mulheres para levar a elas, por meio de oficinas, informações sobre a violência contra a mulher.
"É um problema grave e muito complexo, que nós tentamos amenizar por meio das oficinas dos regimentos internos comunitários e regionais, não é um problema só das mulheres, todos têm o dever de protegê-las, e o CIR tem buscado, junto com o jurídico e o departamento de mulheres, garantir que essa causa coletiva seja enfim resolvida", explicou Félix.
Participaram da mesa o Departamento de Mulheres do CIR, o setor jurídico, a Defensoria Pública Estadual (DPE), a advogada Joenia Wapichana, a Organização das Nações Unidas (ONU), a Organização das Mulheres Indígenas de Roraima (OMIRR), a coordenadora de conciliação do polo indígena Elias de Souza, da região Serras, Mara Teixeira, a psicóloga do DSEI Leste/RR, Eterniza Macuxi, a coordenadora do DGTAMC, Sineira do Vale, e a Tuxaua Geral do Movimento de Mulheres Indígenas, Kelliane Wapichana.

A coordenadora da OMIRR, Gabriela Nascimento, que atua em ações voltadas às mulheres, reforçou a existência de casos de violência contra as mulheres indígenas que são abafados pelas lideranças das comunidades.
"Nós, enquanto OMIRR, recebemos denúncias sobre a omissão das lideranças quando se trata de violência contra a mulher. Se queremos combater isso, devemos de fato tomar medidas necessárias e não silenciar as mulheres", pediu Nascimento.
Gabriela reforçou que as orientações sobre o assunto devem ser ensinadas para meninos e meninas desde pequenos, nas escolas, comunidades, igrejas e em outros lugares.
"É uma pauta importante para que possamos saber das informações e também tirar nossas dúvidas. É um momento para refletirmos sobre o papel das mulheres em nossas comunidades e o quanto elas são fundamentais no nosso dia a dia", frisou César da Silva, coordenador regional da Serra da Lua.
Suelen Alves, juíza coordenadora do Juizado Especializado de Violência Doméstica do Tribunal de Justiça, afirmou que Roraima está em primeiro lugar no ranking de violência sexual contra a mulher, uma realidade triste que precisa ser mudada.
"Pedimos às lideranças presentes que levem essas informações sobre a violência doméstica para suas comunidades, para que compartilhem e protejam mulheres, crianças e jovens", ressaltou.
A bebida alcoólica é o principal fator da violência contra a mulher. A informação foi repassada pela psicóloga do DSEI Leste/RR, Iterniza André.
"O fator determinante é o uso abusivo de álcool e drogas. Recebemos os relatos durante os atendimentos das vítimas, que informam que os agressores e abusadores estavam sob efeito de bebidas alcoólicas enquanto praticavam o crime", pontuou André.
Ainda conforme André, as mulheres indígenas precisam ser respeitadas e empoderadas com informações sobre seus direitos.
O Departamento de Mulheres Indígenas do CIR, desde sua criação, realizou oficinas e seminários sobre as violências contra a mulher, seus direitos e as maneiras de denunciar os casos. Um legado deixado pela ex-secretária do movimento indígena, Maria Betânia Mota.
"Essa mesa é muito importante, lideranças, porque a violência ocorre nas regiões base do CIR, e precisamos mudar essa realidade. Precisamos refletir e não normalizar esse problema nas comunidades, para que juntos possamos somar forças para enfrentar a situação", ressaltou a Tuxaua Geral do Movimento Geral de Mulheres, Kelliane Wapichana.
O tema foi aprovado na 53ª Assembleia Geral dos Povos Indígenas de Roraima.
Fotos: Caíque Sousa- ASCOM/CIR
Texto: Helena Leocádio