A Comunidade Araçá, território indígena na região do Amajari, sediou a 3ª Caravana da Juventude: “Vem Remar Comigo”, reunindo 26 jovens das regiões Alto Cauamé, Raposa, Serra da Lua, Serras, Surumu, Tabaio, Baixo Cotingo e Amajari.
A iniciativa foi promovida pelo Conselho Indígena de Roraima (CIR), por meio do Departamento da Juventude, com apoio do Fundo Pawanka e da Embaixada Real da Noruega, visando fortalecer o intercâmbio entre jovens lideranças indígenas e promover o compartilhamento de vivências comunitárias.
A Comunidade Araçá é uma comunidade multiétnica, onde vivem os povos Wapichana, Taurepang, Macuxi e Sapará, que compartilham saberes, tradições e modos de vida conectados ao território.

Idealizada em fevereiro de 2024, a "Caravana da Juventude – Vem Remar Comigo" nasceu do anseio da liderança Valdir Tobias, tuxaua da comunidade Congresso, na região Baixo Cotingo. Assim como o nome sugere, a caravana convida os jovens a remar juntos e seguir o legado das lideranças tradicionais.
Para Raquel Wapichana, coordenadora do Departamento de Juventude, a caravana é um meio de fortalecer as novas gerações:
"A caravana vem para fortalecer e moldar as jovens lideranças, criando laços, motivando e inspirando outros jovens a seguirem o mesmo caminho de liderança", explicou.
A programação, realizada entre os dias 24 e 28 de fevereiro, incluiu atividades práticas, oficinas e vivências culturais.
No dia 25, os participantes visitaram a Fazenda Cajueiro, onde auxiliaram na construção de uma cerca de arame. À tarde, seguiram para a Fazenda Kawarane, onde conheceram o local e pintaram o curral. Posteriormente, realizaram uma visita ao Retiro União, onde exploraram as ruínas de uma antiga escola de formação, um posto médico e um poço, destacando a importância da preservação histórica do território.

As visitas foram acompanhadas pelo vice-tuxaua do CIR, Enock Taurepang, que nasceu e foi criado na Comunidade Araçá. Ele compartilhou as histórias desses locais e reforçou para os jovens a importância de fortalecer o legado do movimento indígena de Roraima:
"É preciso que vocês continuem esse legado de luta e resistência das nossas lideranças tradicionais, fortaleçam a luta, que é contínua. Sejam exemplos para outros jovens e não deixem nossa história ser apagada", pediu Taurepang.
No mesmo dia, os jovens participaram da oficina "Arte em Fibra de Bananeira", ministrada pela professora e artesã Valdelia Wapichana, que abordou a valorização da matéria-prima natural e seu uso no artesanato tradicional.
"Trabalhar isso é conectar a arte com a mãe terra. É um privilégio poder repassar esse conhecimento para a juventude, para que levem essa experiência para suas comunidades e fortaleçam o uso dos recursos naturais disponíveis", destacou a professora.

Na prática, os jovens produziram telas a partir do caule da bananeira e aplicaram grafismos indígenas. A oficina contou também com a presença de alunos da Escola Estadual Indígena Tuxaua Raimundo Tenente, acompanhados pelas professoras Keila Barroso e Rosângela Marques.
"A oficina faz com que não percamos nossa cultura, nossos costumes", ressaltou a professora Keila. Já a professora Rosângela enfatizou:
"É muito importante esse encontro de jovens, pois eles podem conhecer outras regiões e ter essa troca com os alunos."
Na noite do dia 26, os participantes acamparam às margens do Rio Amajari, promovendo um momento de integração, compartilhamento de histórias e troca de experiências sobre as dinâmicas de suas comunidades, desafios e perspectivas para o futuro.
No dia 27, a caravana seguiu para a Comunidade Mangueira, onde participou da oficina "Sementes das Artes", conduzida pelo professor Elton Taurepang. Durante a atividade, os jovens aprenderam a produzir pingentes utilizando barro e argila assados na brasa, explorando o potencial do artesanato indígena como forma de valorização cultural e fonte de reconhecimento.



Encerrando as atividades, a caravana dirigiu-se à Serra do Guariba, onde descansou ao pé da serra. Na manhã do dia 28, os jovens subiram ao topo para contemplar o amanhecer, marcando simbolicamente o encerramento da experiência.
A jovem Julha de Oliveira, participante desde a segunda edição da caravana, destacou a importância do encontro:
"Todas as vivências foram importantes. Conheci outros jovens, culturas, comunidades e regiões. Cada um tem um mundo diferente, todos pensam de formas diferentes, mas estão juntos na mesma caminhada. E a essência da liderança se torna gratificante por isso."

De volta à Comunidade Araçá, os jovens foram recepcionados com um café da manhã junto às lideranças locais e receberam um remo de canoa, confeccionado especialmente como símbolo de união e reconhecimento pela participação no evento.
A 3ª Caravana da Juventude: Vem Remar Comigo reafirmou seu papel na promoção do fortalecimento das novas gerações indígenas, incentivando a troca de saberes, a valorização da cultura e o engajamento das juventudes na defesa de seus territórios e tradições.